Pintura de Ronaldo Mendes
Seguem abaixo trechos de uma crônica do publicitário baiano Nizan Guanaes, publicada na Folha de São Paulo, para incrementar o que eu já havia dito aqui sobre a Semana santa, sobre o novo papa e sobre tudo que digo sempre nas entrelinhas ou abertamente.
"Francisco uma palavra rica de significados num mundo pobre de significado.
Francisco quer dizer coma moderadamente num mundo obeso.
Francisco quer dizer beba com alegria num mundo que enfia a
cara no poste.
Francisco quer dizer consumo responsável em sociedades de
governos e consumidores endividados.
Francisco quer dizer o uso responsável do irmão ar, do irmão
mar, do irmão vento e de todas as riquezas debaixo do irmão Sol e da irmã Lua.
Comunicar é o papel da igreja. Para isso, foram escritos o
Velho Testamento e o Novo Testamento, e Jesus não deixa dúvida quando disse aos
apóstolos: "Ide e anunciai o Evangelho".
Ide, ao contrário do que faz a gorda Cúria Romana, quer
dizer ir, não quer dizer ficar em Roma. Quer dizer ir e anunciar.
E anunciar hoje é muito mais do que o comercial de 30
segundos. Anunciar hoje é usar todas as ferramentas disponíveis, todos os
pontos de contato com seu público. Papa Francisco sabe disso muito bem.
Tanto sabe que muito antes de se apresentar ao mundo na
sacada do Vaticano baixou um Steve Jobs nele, e, quando o monsenhor veio lhe
oferecer uma veste toda rebuscada, Francisco Jobs retrucou: Se o senhor quiser,
pode vesti-la, monsenhor, eu, não. O carnaval acabou.
É digno de reparo que Francisco não fez pesquisas nem testes
antes de criar tudo isso. Não precisava. Foi buscar sua mensagem no DNA da
igreja. E está escrevendo certo por linhas tortas.
Mesmo as coisas conservadoras que têm dito, coisas com as
quais eu pessoalmente não concordo, são muito relevantes. A igreja não pode
querer agradar a todo mundo. Ela tem que marcar territórios e significar
coisas, e, ao fazê-lo, naturalmente exclui almas de seu rebanho.
Marca, design, conduta, relações públicas, endomarketing,
alinhamento interno: Habemus papa."